sexta-feira, junho 27

MGMT E A Psicodelia Fofa


A vitrolinha virtual já executa "Future Reflections", a última faixa do álbum de estréia do MGMT e a sensação não vai embora: é Flaming Lips? É Plyphonic Spree? É Grandaddy? É Banana Split? É Shazam, Xerife & Cia?

As informações negam as aparências e insistem em dizer que não. MGMT é a abreviatura de "management" (gerência, em inglês) e reafirmam os dados do primeiro parágrafo, logo acima. Os "gerentes" são Ben Goldwasser e Andrew VanWyngarden, ex-estudantes da Wesleyan University, Connecticut.

Os ouvidos, porém, não se convencem. Esse é um problema recorrente para quem lida com música pop nesses dias tão estranhos. As referências, as influências, o pedigree de uma banda ou artista não são mais assimilados e absorvidos. Eles simplesmente são regurgitados com o mínimo de vontade em fazer novas coisas ou dar uma cara diferente às velhas coisas.

O resultado é um padrão de "novos" discos como esse do MGMT, chamado Oracular Spetacular. A presença do produtor do Flaming Lips e do Mercury Rev, David Friedmann, no cockpit do estúdio é um indicador forte das desconfianças surgidas: é um disco psicodélico, oras! Vamos dar uma olhada no que isso pode significar.

O que bandas como Mercury Rev, Flaming Lips, Echo And The Bunnymen, The Church e MGMT têm em comum? A abordagem de alguma faceta psicodélica em seus trabalhos, variando de forma e conteúdo, mas nunca abandonando a estética que se reinstalou a partir dos anos 80 no pop. Se antes o tal som lisérgico era sinônimo de maluquices e expansão da mente, os anos 80 conferiram ao gênero um amor especial pelo lado negro da psicodelia, aquela que levou bandas como Velvet Underground a construir seu cânone nos anos 60 e que enveredou pelas vielas sujas da grande metrópole mitológica que habita as mentes de todos.

Já na Califórnia sessentista a lisergia aparecia em forma de bandas de folk rock doidão, lideradas por Byrds, Love e Grateful Dead, misturando a tradição country americana com um cenário colorido e libertário, norteado pela abertura das tais portas da percepção. Fora da América, na velha Grã-Bretanha, toda a moda e a efervescência cultural formaram o invólucro para o som de bandas como Pink Floyd e as nascentes formações progressivas.

Se essas três vertentes principais eram bastante diferentes quando surgiram, tornaram-se influências unificadas a partir dos anos 80 em seu retorno à ordem do dia. A partir daí as bandas citadas no deram a luz a variações próprias do tal rock doidão e lhe conferiram modernidade em boa dose, livrando-o do incômodo anacronismo em relação aos "dias atuais".

A raiz do som praticado pelo MGMT está nos anos 90, precisamente em bandas americanas que evoluíram do cenário alternativo genérico para levar a tal psicodelia mais a sério. Aliás, a maneira encontrada por Mercury Rev, Grandaddy e Flaming Lips, todos americanos e ex-alternativos "de ofício" foi justamente a adição de elementos visuais coloridos e enlouquecidos, como se eles fossem necessários para justificar sua opção. Essa conotação "fofa" dava um clima borbulhante ao cenário e ajudou a produzir estranhas e amalucadas obras musicais.

Os Flaming Lips, por exemplo, lançaram um disco chamado Zaireeka, cuja audição só era possível se seus quatro (!!) CDs fossem tocados ao mesmo tempo em quatro aparelhos diferentes. Os sons, interligados, dariam o resultado final ideal. Depois, um pouco menos ambiciosos, os Lips, sob o comando do maluco Wayne Coyne, deram início a uma seqüência grandiosa de discos, The Soft Bulletin (1999) e Yoshimi Battles The Pink Robots (2003) e At War With Mystics (2006).

Entre esses álbuns, a banda tocou em festivais ao redor do mundo (incluindo o Brasil em sua rota em 2005) e para uma platéia de carros (!!!) num estacionamento em Los Angeles. O Mercury Rev, por sua vez, iniciou suas atividades em 1991, mas conheceu o sucesso sete anos depois, com o lançamento de Deserter Songs, marcado por uma sonoridade que partia do Pink Floyd setentista e flertava com country, lo-fi e folk.

O que isso tem a ver com o MGMT? Tudo. Não dá pra falar no disco deles sem mencionar que ele é uma regurgitação da regurgitação da psicodelia fofa noventista. Nem por isso, entretanto, deixa de ser legal. O som que Friedmann obtém em Oracular Spetacular é cheio de efeitos, cheio de espaço, pontuado por baterias eloqüentes e teclados infantis (que atingem momentos sublimes no hit "Time To Pretend").

As vozes de Ben Goldwasser e Andrew VanWyngarden estão devidamente saturadas de ecos e tudo parece ir bem. "Weekend Wars" é legal. A já mencionada "Time To Pretend" gruda como um chiclete nas mentes mais fracas, "4th Dimensional Transition" se entrega pelo título, assim como "Of Moons, Birds & Monsters". O que mais podemos querer?

Simples. Um som, uma centelha, um traço de personalidade. O som do MGMT é um belo acompanhamento para um slideshow de imagens coloridas em seu notebook. Nada mais. Infelizmente.

OBS: o vídeo abaixo mostra a dupla tocando "Time To Pretend" ao vivo, no programa do David Letterman. Veja a citação que eles fazem ao final da música. Óbvia, mas legal.



3 comentários:

giancarlo rufatto disse...

então acho que estou certo quando digo que MGMT é flaming lips para crianças.

CEL disse...

Com certeza, meu caro. A banda é legal, mas impressiona apenas os que nunca ouviram esse tipo de som.
Agora, "Time To Pretend" é pop dourado.

Anônimo disse...

Bem, embora eu não seja fã da banda, acho a sonoridade bem legal, independente se é 'fofo´, 'dourado' e afins.

Ao menos, eles tiveram boas influências. E esses, tiveram outras melhores ainda.

Joanna.