segunda-feira, junho 30

That Summer Feeling


Estou no inferno.
Calma, não é do subterrâneo flamejante que estou falando. Me refiro ao período que antecede ao aniversário, o que as pessoas entendidas em astrologia (não é o meu caso, note bem) chamam de Inferno Astral.

Está lá, no Google: “Inferno Astral é o período de 30 dias que antecede a data de seu aniversário. Nessa época, a cada ano, você fica mais sensível e precisa se dar a si mesmo(a) mais atenção. Durante essa fase, recomenda-se fazer um balanço de sua vida e quando se deparar com problemas, esforce-se por resolvê-los.”

Bem, eu acredito nisso. Não sou aquele sujeito que lê seção de horóscopo nos jornais e revistas mas acho que estamos sujeitos a influências diversas por aqui e penso que Deus tem um plano para todos nós. Enfim, o que importa é o significado do tal “inferno astral”, que se reflete em uma profunda auto-analise sobre tudo.

Mais ou menos como o post sobre o novo disco do Weezer, me sinto fazendo constantes inventários sobre minha vida e meus atos. Ou a falta deles quando concluo que eram necessários. Às vezes esses balanços são menos felizes que outros mas, por piores que eles sejam, os fatos e pessoas vêm à minha mente sob a forma de música feliz, quase sempre da década de 1990. Apesar de lembrar até de coisas como o primeiro disco do Spin Doctors (e achá-lo bastante legal até hoje), minha trilha sonora aparece na forma de canções powerpop, que trazem em seu conceito, um link automático para os anos 70. Ou seja, é uma porrada dupla de nostalgia, uma lembrança da inspiração, causada pela...Lembrança.

Entenda: se eu batizo o post com essa expressão “that summer feeling”, não estou escolhendo algo bonitinho, mas sendo quase abduzido pelo poder melódico do Teenage Fanclub de 1995, que nos deu “Sparky’s Dream”, uma das favoritas de Inferno Astral, contida em seu disco Grand Prix.

Lembro de comprar a minha cópia desse álbum na antiga Spider, uma loja no segundo andar de uma galeria em Ipanema. Era um cubículo, mas o dono se mantinha sempre antenado com os sons que davam as cartas no exterior. Grande parte da minha coleção de britpop foi adquirida na Spider, além do revelador primeiro disco do Ben Folds Five, hit instantâneo entre os estudantes de Comunicação Social da Uerj em 1995.

Bem, a lembrança da década de 1990 (e dos anos 70, por tabela) não é casual, pelo contrário, aparece perfeitamente explicável para mim. Naquele tempo – putz, já vão uns quinze anos disso tudo – eu era um cara pronto para novos desafios, conhecendo gente jovem reunida, tentando não ser como meus pais e colecionando bons momentos. Estava mais magro, com mais cabelo, namorava uma das meninas mais lindas desse mundo, finalmente adentrava os domínios da Modern Sound com meus caraminguás e saía da poderosa loja de Copacabana com alguns discos.



Naquele tempo haviam três lojas de disco, lado a lado. A Billboard, a Gramophone e a Modern Sound, que sempre foi maior e mais sortida que as outras, porém, fraca em promoções e ofertas. A Gramophone, em cujos domínios encontrei um nervosíssimo Renato Russo, circa 1992, comprando discos de Cat Stevens e Joni Mitchell, era mais camarada com os preços e trazia um monte de lançamentos importados. A Billboard era a terceira em preferência, mas era legal. Com o tempo as duas lojas menores faliram e foram englobadas pela Modern Sound, assim como o antigo cinema Star Copacabana. Ou seja, os prédios foram exorcizados de seus espíritos originais e se contentaram em ser partes de um todo que antecipava o monopólio de venda de discos.

Aliás, me aflige pensar que minhas lembranças passam por algo que está tão démodé como o CD (rima não voluntária, claro). Sempre que penso em anos como 1992/93/94/95 o faço em forma de discos. Lembro deles, dos encartes, de chegar em casa e colocar no carrossel Sony de cinco discos e sugar as letras e perceber o quanto as conexões se estabeleciam com a minha vida.

Não me espanta, portanto, que eu esteja ouvindo bandas como Fountains Of Wayne, Teenage Fanclub e uma espécie de pai deles, o Raspeberries. Nesse balaio powerpop a justiça nunca se fez completamente. Sempre que falamos de formações desse estilo, seja nos anos 70 ou nos anos 90, pensamos em bandas subestimadas ou desconhecidas da maioria. Talvez seja simples pensar nos motivos disso.

Músicas “de verão”, com melodias beatle, guitarras desviadas do hard rock e cobertas de açúcar, além de vocais simpáticos cantando letras sobre amores impossíveis do high school nem sempre estiveram na moda, algo que não se aplica à minha pessoa, principalmente em inferno astral.

As lembranças de lugares como a Tijuca, Méier, Grajaú (bairros da Zona Norte do Rio), dos prédios da Uerj; de pessoas que nunca mais vi, de filmes como “O Balconista”, que se conectam com “Curtindo A Vida Adoidado” (assistido nas escadas do Cinema Leblon, numa tarde sold out após o colégio) e “A Nova Transa da Pantera Cor-de-Rosa” (filme de 1977 com o soberbo Peter Sellers, que eu via nas Sessões de Gala das noites), tudo isso é um looping de “summer feelings” na minha mente. Some a isso a crise da meia-idade chegando e você ter uma idéia do que passa por aqui.


Só mais um detalhe: o verão, essa estação do ano que parece tão presente em nosso Tropico de Capricórnio é algo raro no Hemisfério Norte. Lá, no lugar em que os compositores, artistas e personagens balizadores dos meus inventários nasceram, o sol é aguardado como quem espera quebrar correntes de jugo perpetuo para ser livre. No sentido mais amplo. O povo fica feliz, a neve derrete, o mundo é mais azul e faz todo o sentido cantar as músicas de verão. Assim como se faz necessário cantar as contrapartes de inverno, quando o mundo fica cinza.

No meu inferno astral, encerrando-se em dez dias, porém, o clima é de verão musical pleno e perpétuo, mesmo que a saudade seja um estranho tempero nesse milkshake de Ovomaltine, tomado no Bob’s da rua Domingos Ferreira, em Copacabana, ao lado do meu avô...

PS: Quem quiser dar uma olhada nos temas do inferno astral, precisa ouvir:

- Teenage Fanclub – Grand Prix (1995)
- Fountains Of Wayne – Fountains Of Wayne, Utopia Parkway (1996/1998)
- Raspberries – Live At Sunset Strip (2007)
- Ben Folds Five – Ben Folds Five (1995)
- Lemonheads – It’s A Shame About Ray (1993)
- Dinosaur Jr – Where You’ve Been (1992)
- Weezer – The Blue Album, Pinkerton (1994/1996)
- Neil Young – Harvest Moon (1992)
- Nirvana – Nevermind (1991)
- Pearl Jam – Ten/Vs (1991/93)

PPS: alguns clipes abaixo para "ilustrar" o post. Temos "Denise", com o Fountains Of Wayne, do disco Utopia Parkway (1998). A banda de Nova Jersey, liderada por Adam Schlesinger, atingia o topo das paradas pela primeira vez. Detalhe para a presença da atriz Jolene Blalock (que participaria da série Enterprise (da franquia Star Trek), no papel da subcomandante vulcana T'Pol. Depois vemos Ben Folds Five cantando "Philosophy" ao vivo, no programa de Jools Holland. E fechamos com "Sparky's Dream", do Teenage Fanclub.


sábado, junho 28

O Fim dos Tempos (e da paciência)...


M Night Shyamalan apareceu para o mundo em 1999, principalmente por seu segundo filme, O Sexto Sentido. Seu primeiro trabalho, O Pequeno Stuart Little, apesar de bem sucedido e ter gerado uma seqüência, não colocou o cineasta americano, descendente de indianos no mapa das celebridades. Pelo menos, não da forma como passamos a associar seu nome a filmes misteriosos e com uma grande revelação no final.

A filmografia de Shyalaman passa essencialmente por alguns elementos que se repetem nesse seu novo longa, O Fim Dos Tempos (The Happening). O suspense está lá. As suposições e conclusões tiradas ao longo da história também. Personagens atormentados e introspectivos, quase anti-heróis continuam povoando as narrativas. Até o próprio diretor, aparecendo numa ponta, quase despercebido, tudo está presente em The Happening.

O grande problema deste e de outros filmes do diretor, espacialmente Sinais e Dama Na Água, é que a história contada beira o ridículo, o nonsense, resvalando para um filme-B não intencional, quase constrangedor.

Aqui temos Mark Wahlberg no papel de um professor de Ciências numa escola secundaria da Filadélfia. Ele tem problemas no casamento e uma vida sem muitas novidades até que se vê sorvido por um redemoinho de fatos inexplicáveis que começam a assolar a região nordeste dos Estados Unidos, de Boston até sua cidade. Rumores de ataques terroristas chegam em noticias confusas e logo as pessoas estão fugindo, sem saber realmente o que estão fazendo.

Ao longo do caminho, Wahlberg, sua esposa Alma (vivida pela interessante Zooey Deschanel), o colega Julian (um professor de Matemática, vivido pelo correto John Leguizamo) e a filha deste, Jess (Ashlyn Sanchez) vão notando que quase nada pode deter os acontecimentos e que só lhes resta esperar, resignados pelo destino.

A idéia de Shyalaman tem méritos mas eles estão longe de fazer valer a visita à sala escura. A trama se explica de maneira patética e parece jogada na cara do espectador como uma torta. As cenas de tensão – uma marca registrada do cineasta – estão frouxas e resvalam para a auto-caricatura não intencional e comprometem qualquer possibilidade de se levar The Happening a sério.

Mesmo a badalada teoria de que o ser humano está infligindo danos tão graves ao planeta que pode ser repelido como se fosse um vírus num organismo doente, soa como um mero recurso mal utilizado. É criado um clima de tensão ao longo do filme que acaba de maneira anti-climática e tola, confundindo valores, situações e mesmo conceitos como “instinto de sobrevivência” numa salada pseudo-ecológica de feira de ciências. Passe longe e aproveite para rever o que Shyalaman já foi capaz de fazer, extraindo belas atuações de Bruce Willis (um canastrão assumindo) em O Sexto Sentido e em seu melhor – e mais subestimado filme – Unbreakable, pobremente traduzido para o português como “Corpo Fechado”.


sexta-feira, junho 27

MGMT E A Psicodelia Fofa


A vitrolinha virtual já executa "Future Reflections", a última faixa do álbum de estréia do MGMT e a sensação não vai embora: é Flaming Lips? É Plyphonic Spree? É Grandaddy? É Banana Split? É Shazam, Xerife & Cia?

As informações negam as aparências e insistem em dizer que não. MGMT é a abreviatura de "management" (gerência, em inglês) e reafirmam os dados do primeiro parágrafo, logo acima. Os "gerentes" são Ben Goldwasser e Andrew VanWyngarden, ex-estudantes da Wesleyan University, Connecticut.

Os ouvidos, porém, não se convencem. Esse é um problema recorrente para quem lida com música pop nesses dias tão estranhos. As referências, as influências, o pedigree de uma banda ou artista não são mais assimilados e absorvidos. Eles simplesmente são regurgitados com o mínimo de vontade em fazer novas coisas ou dar uma cara diferente às velhas coisas.

O resultado é um padrão de "novos" discos como esse do MGMT, chamado Oracular Spetacular. A presença do produtor do Flaming Lips e do Mercury Rev, David Friedmann, no cockpit do estúdio é um indicador forte das desconfianças surgidas: é um disco psicodélico, oras! Vamos dar uma olhada no que isso pode significar.

O que bandas como Mercury Rev, Flaming Lips, Echo And The Bunnymen, The Church e MGMT têm em comum? A abordagem de alguma faceta psicodélica em seus trabalhos, variando de forma e conteúdo, mas nunca abandonando a estética que se reinstalou a partir dos anos 80 no pop. Se antes o tal som lisérgico era sinônimo de maluquices e expansão da mente, os anos 80 conferiram ao gênero um amor especial pelo lado negro da psicodelia, aquela que levou bandas como Velvet Underground a construir seu cânone nos anos 60 e que enveredou pelas vielas sujas da grande metrópole mitológica que habita as mentes de todos.

Já na Califórnia sessentista a lisergia aparecia em forma de bandas de folk rock doidão, lideradas por Byrds, Love e Grateful Dead, misturando a tradição country americana com um cenário colorido e libertário, norteado pela abertura das tais portas da percepção. Fora da América, na velha Grã-Bretanha, toda a moda e a efervescência cultural formaram o invólucro para o som de bandas como Pink Floyd e as nascentes formações progressivas.

Se essas três vertentes principais eram bastante diferentes quando surgiram, tornaram-se influências unificadas a partir dos anos 80 em seu retorno à ordem do dia. A partir daí as bandas citadas no deram a luz a variações próprias do tal rock doidão e lhe conferiram modernidade em boa dose, livrando-o do incômodo anacronismo em relação aos "dias atuais".

A raiz do som praticado pelo MGMT está nos anos 90, precisamente em bandas americanas que evoluíram do cenário alternativo genérico para levar a tal psicodelia mais a sério. Aliás, a maneira encontrada por Mercury Rev, Grandaddy e Flaming Lips, todos americanos e ex-alternativos "de ofício" foi justamente a adição de elementos visuais coloridos e enlouquecidos, como se eles fossem necessários para justificar sua opção. Essa conotação "fofa" dava um clima borbulhante ao cenário e ajudou a produzir estranhas e amalucadas obras musicais.

Os Flaming Lips, por exemplo, lançaram um disco chamado Zaireeka, cuja audição só era possível se seus quatro (!!) CDs fossem tocados ao mesmo tempo em quatro aparelhos diferentes. Os sons, interligados, dariam o resultado final ideal. Depois, um pouco menos ambiciosos, os Lips, sob o comando do maluco Wayne Coyne, deram início a uma seqüência grandiosa de discos, The Soft Bulletin (1999) e Yoshimi Battles The Pink Robots (2003) e At War With Mystics (2006).

Entre esses álbuns, a banda tocou em festivais ao redor do mundo (incluindo o Brasil em sua rota em 2005) e para uma platéia de carros (!!!) num estacionamento em Los Angeles. O Mercury Rev, por sua vez, iniciou suas atividades em 1991, mas conheceu o sucesso sete anos depois, com o lançamento de Deserter Songs, marcado por uma sonoridade que partia do Pink Floyd setentista e flertava com country, lo-fi e folk.

O que isso tem a ver com o MGMT? Tudo. Não dá pra falar no disco deles sem mencionar que ele é uma regurgitação da regurgitação da psicodelia fofa noventista. Nem por isso, entretanto, deixa de ser legal. O som que Friedmann obtém em Oracular Spetacular é cheio de efeitos, cheio de espaço, pontuado por baterias eloqüentes e teclados infantis (que atingem momentos sublimes no hit "Time To Pretend").

As vozes de Ben Goldwasser e Andrew VanWyngarden estão devidamente saturadas de ecos e tudo parece ir bem. "Weekend Wars" é legal. A já mencionada "Time To Pretend" gruda como um chiclete nas mentes mais fracas, "4th Dimensional Transition" se entrega pelo título, assim como "Of Moons, Birds & Monsters". O que mais podemos querer?

Simples. Um som, uma centelha, um traço de personalidade. O som do MGMT é um belo acompanhamento para um slideshow de imagens coloridas em seu notebook. Nada mais. Infelizmente.

OBS: o vídeo abaixo mostra a dupla tocando "Time To Pretend" ao vivo, no programa do David Letterman. Veja a citação que eles fazem ao final da música. Óbvia, mas legal.



quarta-feira, junho 25

Ana, Joss E A Quitanda das Vaidades

Ontem eu zapeava pelos canais fechados e me espantava com a pobreza da programação que a maioria do povo tem à disposição em suas televisões. O humor com validade vencida do Casseta & Planeta Urgente, o filme reprisado do SBT, a inacreditável novela mutante da Record e, bem, o Superpop da Rede TV, com Luciana Gimenez à frente. Passei pelo programa na hora em que o funk carioca rolava solto, com um agrupamento de seres lamentáveis tomando o palco, “cantando” e dançando as “músicas”. O indefectível MC Creu e suas dançarinas – Mulher Jaca e Mulher Moranguinho – ,o MC Frank e sua dançarina – a Mulher Melão – o grupo Malhafunk e a sobrinha de Gretchen, Caroline Miranda, ao lado do MC Lips. Sim, meus senhores e senhoras, eu anotei esses nomes, claro. Não me estranha, entretanto, o conceito hortifrutigranjeiro que se assenhorou das novas musas da mídia classe B/C. A tal Mulher Melancia, ex-dançarina do MC Creu, já está no seu décimo-segundo minuto de fama (em tese só faltam três minutos para que ela suma de vez) completa o balcão da quitanda das vaidades. Melancia, melão, moranguinho, jaca e, numa expansão de mercado, há também uma certa Mulher Filé, cujas informações maiores são desconhecidas. A tal sobrinha de Gretchen, que jura ser virgem aos 18 anos de idade e desenvolvendo uma versão “funk” das coreografias eternizadas por sua tia nos anos 80, é a mais interessante da quitanda. Mas não pode abrir a boca ou pensar (sic). A tal “canção” que ela “interpreta” ao lado do tal MC Lips é “Meu Selinho”, vem com uma letra sacana de duplo sentido, fazendo analogia entre o “selinho” que é beijo e que é o preferido da “moça” e aquele que denota a virgindade propalada por ela, este, o preferido de MC Lips, que, apesar da disposição em conquistar a rebolativa morena, não me pareceu muito chegado.

Triste, nada menos que isso.

A certeza de que essa escrotização da beleza feminina é algo setorial e (esperamos) passageiro fica maior quando me deparo, umas doze horas depois, com as presenças de Joss Stone e Ana Ivanovic na programação aberta, proporcionada pela Sky.

Me pergunto se a maioria das pessoas que é fã da quitanda das vaidades tem noção da existência da bela tenista sérvia, número 1 do ranking mundial ou da cantora pop inglesa, que esteve recentemente no país. Concluo que não. Ivanovic – que suou o vestidinho branco para vencer a francesa Nathalie Dechy hoje, pela terceira rodada do Torneio de Wimbledon – é uma pequena princesa balcânica. “Pequena” talvez não seja o termo exato, pois a sérvia, de 21 anos, possui interessantes 1,85m de altura e exibe um biotipo moreno irresistivelmente belo, além de parecer uma menina comum. Claro, Ivanovic já faturou cerca de cinco milhões de dólares desde que começou a carreira, o que a destaca das “meninas comuns” que vemos por aí. Ela é mais interessante – aos olhos desse que vos escreve, pelo menos – que a russa Maria Sharapova, mas isso já é outra discussão. Joss Stone também tem beleza espantosa, simpatia cativante (comprovada in loco no show que ela deu no Vivo Rio) e alguns milhões na conta bancária, tendo em vista as vendagens de seus três discos, The Soul Sessions; Mind, Body & Soul e Introducing Joss Stone, lançados entre 2003 e 2007. Joss apareceu para o mundo com 16 anos e hoje, com a mesma idade de Ana Ivanovic, é uma jovem pra lá de bem sucedida. E o que elas têm a ver com os padrões de beleza da televisão brasileira? Nada, aparentemente, né?

A relação é clara, mesmo que não pareça. Qual a diferença dos modelos de inspiração para a juventude planetária? As meninas da Quitanda das Vaidades e a dupla Ivanovic-Stone? Quem é mais interessante para as jovens? Mesmo que todas elas – mais e menos vulgares – atraiam o público masculino por diferentes motivos e mesmo fim, todas elas atraem o publico feminino pela mesma razão. São exemplos de vitórias pessoais que se tornaram publicas e são marteladas pela mídia em seus diferentes canais. Muitas meninas brasileiras da classe média podem achar que rebolar num programa de televisão, posar para revistas masculinas e faturar um milhão de reais num Big Brother Brasil é o máximo em termos de objetivo para toda uma vida. É uma carreira que acaba tão cedo como, por exemplo, a carreira de Ivanovic, lá pelos trinta anos de idade. E as meninas do Primeiro Mundo? Também devem achar o mesmo, oras. O ser humano é igual em todo o planeta, pelo menos em essência e convicções. A certeza que ficou dessa pequena ponderação sobre mulheres é que nós – os homens – estabelecemos o padrão de beleza variável de acordo com várias circunstâncias e fatores. Os que desejam um contato mais objetivo com a mulherada devem preferir a mesma objetividade que as mulheres-fruta apresentam em suas aparições. Os que ainda pensam em etapas intermediárias podem preferir Ivanovic ou Stone, principalmente pelo fato delas serem virtualmente impossíveis e as fantasias mais legais são aquelas que permanecem assim por um bom tempo, talvez pra sempre. Quem não gostaria de jantar com Ana Ivanovic e vê-la se interessando por fatos corriqueiros do cotidiano ou descobrindo afinidades de gosto? Ou quem acharia dispensável levar Joss Stone ao cinema para assisitir um desses filmes de mulherzinha e vê-la se emocionar com uma cena qualquer? Garanto que um número enorme de sujeitos mundo afora adoraria fazer esses programas com as moçoilas. Assim como há uma multidão igualmente maior que preferia uma bela salada de frutas bem rápida, sem tempo para pensar qual fruta foi servida. Há gosto, tempo, vontade e disposição pra tudo.

Agora, cá entre nós: fica difícil convencer a esposa de que esse texto tem pretensões puramente sociológicas, não é? Talvez a presença de gente como Brad Pitt, George Clooney e até um certo Tom Wilkinson no imaginário feminino nos dê a chance desses passeios no mundo da fantasia. Do contrário, estaríamos perdidos e mal pagos. Não acha?






domingo, junho 22

Weezer Vermelho




Rivers Cuomo, cantor, guitarrista e cérebro do Weezer completou 38 primaveras no último dia 13 de junho e está, certamente, vivenciando sua crise da meia-idade. Como eu sei? Faço meus 38 anos no dia 10 de julho, ou seja, pouco menos de um mês após o líder da banda californiana.
A crise da meia-idade é algo que não dá pra ser simulado, fingido ou banalizado. É uma sensação autêntica e só perceptível para quem a experimenta e faz colocar em dúvida quase tudo que se aprendeu até o último dia do ano 37 acabar. Ou do ano 39, 40, aliás, essa é outra característica dessa fase estranha, ela não tem uma hora exata para acontecer. Quando percebemos, simplesmente estamos nela e, de certa forma, não queremos sair..

O ser humano que está na meia-idade questiona as coisas exatamente como um adolescente, só que com a (des) vantagem de se achar mais versado em assuntos diversos, o que só torna o sentimento mais difícil de ser digerido e assimilado. Perguntas do quilate de “como eu cheguei até aqui?”, “por que eu não escolhi outra carreira?” ou ainda “quem é essa pessoa no espelho me olhando enquanto eu faço minha barba?”. Sim, não nos reconhecemos mais em muitas das situações que nos definem sutilmente ao longo do dia, das maneiras mais cotidianas e naturais, sem que isso pareça totalmente errado. Parece que necessitamos dessa crise, como se ela fosse nos reafirmar para nós mesmos. Essa conversa mole e fiada é uma maneira de introduzir o verdadeiro objeto desse texto: o novo disco do Weezer.

Eles são, por definição, um bando de nerds integrando um grupo de rock, mesmo que a figura de Cuomo se destaque da maioria e o coloque como, talvez, o único nerd presente na banda. O novo trabalho deles, homônimo e já apelidado pelos fãs de “Red Album” é mais um daqueles discos coloridos que o conjunto lança a cada sete anos, talvez para mostrar a novas gerações o que eles pensam e são. Ou não, talvez não seja nada disso. O ponto é que os discos homônimos de 1994 (Blue Album) e 2001 (Green Album) serviram para mostrar/lembrar o fã de música pop de alguns preceitos interessantes e que valem muito.

Vejamos o Blue Album, disco de estréia do Weezer. Em 1994, após dois anos de garagem e shows amadores em buracos da cena alternativa de Los Angeles, o Weezer conseguiu seu contrato com a DGC, mesma gravadora que havia lançado Nevermind, o disco do Nirvana que mudou a cara do rock alternativo e sua compreensão. Ao sabor do vento que soprava as velas do tal “pós-grunge”, o quarteto californiano colocou sua cara (e seus óculos) nas telas da MTV através do hit “Say It Ain’t So”. O som era puro “dejá ouvi”, misto de Pixies e Van Halen ou de Nirvana e Kiss, misturando as guitarras pesadinhas com melodias que grudavam na mente como chiclete.

Após o primeiro hit, vieram “Buddy Holly” (e seu clássico clipe), “Holiday”, “Undone (The Sweater Song) e o Weezer ganhou o mundo, via MTV e baseado na necessidade nunca declarada de substituição do Nirvana, algo que foi mais ou menos logrado pelo lançamento de Definitely Maybe, primeiro disco dos ingleses do Oasis.

Corta pra 2001.

O Weezer retornava ao mundo dos vivos após um hiato de seis anos. O segundo disco, Pinkerton, gravado e lançado como um suposto álbum conceitual, não manteve a banda nos píncaros do sucesso. Talvez Cuomo não tenha se sentido à vontade com o peso que o showbiz reservara para ele e, não só fez um disco “difícil” como se retirou para Harvard, famosa universidade americana, na qual ele concluía o curso de Inglês.

O tal Green Album, de 2001, é um retorno à sinceridade nerd e iluminou as mentes de uma nova geração de fãs, imediatamente capturados por canções como “Photograph” ou “Island In The Sun”, que se encharcavam no romantismo confessional sem resvalar para o que foi chamado (erradamente, diga-se) de emo-rock, o tal rock emocional, que gerou uma fornada lamentável de bandas que conquistaram o Olimpo rocker. Se o Weezer não é “emo”, o que ele seria então? A mesma banda de 1994, mais velha, na casa dos trinta anos, devidamente saída da pós-adolescência e mais tarimbada sobre as coisas. A vida americana e seus desdobramentos continuavam alimentando a pena de Cuomo e isso era o que poderia acontecer de melhor.
2008.

O que pensar de um novo disco do Weezer? E o que pensar de um dos tais discos coloridos deles? Entre o álbum verde e o vermelho vieram Maladroit (2002) e Make Believe (2005), mais pesados, mais exagerados, menos intensos, ainda que guardem canções memoráveis como “Haunt You Everyday”, presente no último e que marca a entrada da banda no território das baladas, algo que não é para amadores. Aliás, uma digressão: quando uma banda de rock faz uma balada é porque está sentindo algo. Claro, esta regra não se aplica às formações flácidas e vazias de significado, afinal de contas, grupos de “rock” ganham o mundo e as mentes com (bo)baladas o tempo todo. No caso do Weezer, não. A regra é clara e válida.

Além dos dois discos, Cuomo lançou em 2007 uma compilação de gravações caseiras chamada Alone: The Home Records Of Rivers Cuomo, cheia de preciosidades, entre elas um rascunho sensacional de “Buddy Holly”.

O tal Red Album é, portanto, um disco de um sujeito que está na crise da meia-idade, se questionando sobre tudo e todos, lembrando de seus vinte anos, das ruas, das pessoas, dos colégios, dos filmes, de tudo. O Weezer é composto por sujeitos que poderiam ser os adolescentes nerds dos anos 80, aqueles que se davam bem no final das comédias Namorada de Aluguel, Gatinhas e Gatões, A Garota de Rosa Shocking, Admiradora Secreta, entre outras. Por isso é tão sincera essa nostalgia “jovem” que Rivers Cuomo experimenta no novo trabalho.

Há uma canção em especial que entrega o ouro para o ouvinte. Em “Heart Songs” eles enumeram canções e artistas queridos, citados nominalmente ou por suas canções (ou ambos) e traçam uma linha cronológica que abarca infância, adolescência e a época que assinaram seu contrato. Poucas vezes algo tão sincero foi escrito no rock, algo que faz os contemporâneos de Cuomo sentirem uma pontada doída no coração, que desencadeia um flashback incessante de imagens que compreendem formaturas, namoradas, ex-namoradas, pessoas, cheiros, séries de televisão, tempos que nos parecem indubitavelmente melhores.

O trecho que marca a audição de Nevermind é digno de figurar entre os momentos de ouro do rock’n’roll de todos os tempos, tamanha a sinceridade e a necessidade de se lembrar, sim, do que ouvimos, daquelas canções que nos definem, que nos identificam perante uma multidão de ouvintes de segunda mão. Veja:

“Back in 1991
I wasn't havin' any fun
'Till my roommate said
"Come on and put
A brand new record on"
Had a baby on it
He was naked on it
Then I heard the chords
That broke the chains
I had upon me
Got together with my bros
In some rehearsal studios
Then we played
Our first rock show
And watched the fan base
Start to grow
Signed the deal that gave
The dough to make
A record of our own
The song come
On the radio
Now people go
This is the song”

Sem cinismo, sem falsa idade, sem qualquer rodeio. Talvez haja um paralelo involuntário entre “Heart Songs” e uma faixa do primeiro disco da banda, “In The Garage”. Na letra desta, Cuomo tece uma declaração de amor ao lugar em que ele se sente seguro, onde há posters do Kiss, bonecos dos X-Men e isolamento acústico para tocar sua guitarra com os amigos, aqueles com quem compõe suas “silly rock songs”. Agora Rivers revisita a tal “bolsa marsupial” que possuímos, aquela que traz nossas bulas de remédio e que podem (e devem) ser sempre consultadas.

O “Red Album” é sensacional. Parecidíssimo com os outros discos da banda, mas com essenciais avisos de que algo mudou. Há uma cover de “The Weight”, o maior sucesso da Band, do disco Music From The Big Pink (1968), que mostra uma nova influência no cânon da banda. Também há músicas maiores, na melhor tradição das canções maiores gravadas pelo Weezer, “The Greatest Man That Ever Lived”, “The Angel And The One” e aquelas outras músicas que são “landmarks” da sonoridade da banda, como “Troublemaker”, capaz de identificar o Weezer imediatamente.

Nenhum momento do disco, entretanto, é mais delicioso que “Heart Songs”. Ouça cantando a letra e tente escrever a sua própria versão de canções e tente substituir o momento “Nevermind” por algo tão marcante em sua vida. Torço para que você encontre facilmente ou, quem sabe, descubra que a banda tem mais esse traço em comum com você. Boa sorte.

quinta-feira, junho 19

Maior Que A Vida

Gosto muito da expressão que dá título a este post. Quando ela é usada em inglês, assumindo a forma de “larger than life”, fica ainda mais bonita, sem qualquer estrangeirismo barato. Algumas frases e palavras no idioma de Shakespeare são mais apropriadas, assim como outras o são no idioma de Camões. As línguas, sendo assim, se equivalem e se complementam. Bem, o assunto não é a diferença entre português e inglês, mas o uso do termo “larger than life” para definir uma canção em especial. Quando falamos em algo maior que a vida, estamos automaticamente encapsulando nossa própria existência – e talvez a própria existência per se – e admitindo que há coisas maiores que a nossa passagem por esse plano. Não quero me prender a qualquer perspectiva terrena ou transcendental sobre a vida, mas, certamente, ela é menor que muitas “coisas”. E admito que manifestações artísticas podem e devem ser maiores e mais longevas que a nossa existência, justamente para que possam perdurar ao longo do Tempo, até que surja algo do mesmo tamanho e/ou importância.

Em 1993, mais precisamente depois que entrei para a faculdade de Jornalismo, conheci um grupo adorável de pessoas que me acompanhou ao longo dos quatro anos do curso e que não tive a habilidade para conservar ao meu lado, mesmo depois de a vida mudar as direções das nossas respectivas retas. Após a entrada na Uerj, passado o período dos trotes, conheci a última pessoa que mereceu o posto de “meu melhor amigo”. Leonardo Nascimento Salomão era um sujeito tímido, acuado num canto da sala de aula até que alguém o chamou para uma rodinha de conversa, daquelas em que a gente diz de que colégio veio, o que fez antes dali etc. Eu vinha de oito períodos de Direito, cursados em outra universidade, ciente da perda de três anos em relação aos meus colegas de turma. E o Léo veio até a rodinha, balbuciou umas poucas palavras. Naquele dia mesmo – ou no dia seguinte, não lembro – percebemos um grande interesse em comum: a música e a vontade de escrever sobre ela. Líamos a mesma revista Bizz/Showbizz, compartilhávamos do interesse em muitos artistas e começamos a escrever resenhas sobre os discos que comprávamos e as bandas que nos eram queridas. Ao longo do primeiro ano de Uerj se estabeleceu um ritual informal que consistia em uma sessão musical na casa do Léo, no Grajaú (bairro da Zona Norte do Rio). Alugávamos discos (sim, existia locadora de CD no inicio dos anos 90) e “aprendíamos” sobre eles na casa do Léo, ou não, quando o aprendizado era deixado em segundo plano, diante da tentação de uma partida de sueca.

Dessa época da minha vida eu lembro muito bem. Lembro de duas fitas K7 que o Léo me gravara com duas bandas que ele havia conhecido em sua recente passagem por São Paulo, cidade na qual morava antes de vir para o Rio. Uma fita trazia uma coletânea de uma banda chamada Violent Femmes. A outra era uma compilação do Waterboys. As duas formações, uma americana, outra escocesa, eram dos anos 80 e pertencem aquele grupo de bandas que nunca ficam totalmente famosas mas que são capazes de marcar época e se aninhar confortavelmente em nossa mente. É dos Waterboys que quero falar.

A banda escocesa, liderada pelo cantor/compositor Mike Scott surgiu no inicio dos anos 80 e lançou seu primeiro e homônimo trabalho em 1981. Dois anos depois veio A Pagan Place, seu segundo disco. Talvez por coincidência, o trabalho que projetou os Waterboys para além do Reino Unido foi o que conheci na fita K7 do Léo, This Is The Sea, de 1985. Quando esse disco foi gravado eu tinha 15 anos e só o estava conhecendo com 22. A música tem a capacidade de subverter a ordem cronológica das coisas e eu me vi adolescente de novo, ao me espantar com a riqueza melódica e a semelhança que as canções com os trabalhos de gente que eu começava a amar, principalmente Van Morrison e Bob Dylan. “The Whole Of The Moon”, o grande hit do disco me conquistou imediatamente, mas a canção-título é que ficou no meu bolso permanente, aquela bolsa marsupial de pequenas situações e coisas que nos definem e acompanham ao longo da existência.

Hoje, 23 anos depois do lançamento do disco e quinze depois da primeira vez em meus ouvidos, cruzei novamente com “This Is The Sea”, a música. É uma canção de redenção, de coisas no lugar. É um desses momentos em que somos capazes de olhar para nós mesmos e perceber o que fizemos, o que faremos e o que podemos fazer para acertar nos alvos que passam voando pela nossa frente. É um conselho, é um abraço de amigo, é uma viagem ao centro da nossa Terra. A voz de Mike Scott percorre a letra – nem tão grande – como quem percorre o caminho entre o quarto de sua infância e a sala da sua maturidade. Entre brinquedos, revistas, discos, choro, roupas, retratos deixados no caminho, vem a luz, como aquela calçada no clipe de “Billie Jean”, de Michael Jackson, que mostra o caminho que ele escolheu enquanto dançava. “This Is The Sea” é o barbante que amarramos no inicio do labirinto para que não esqueçamos de onde viemos e quem somos. A melhor figura da música é a analogia com o verso “that was the river, this is the sea”, no qual passado e presente são colocados frente a frente, um menor que o outro, um conectado ao outro, um alimentando o outro, indivisíveis e imprescindíveis.

“This Is The Sea” é uma canção maior que a vida. É solene, é apoteótica, vai tomando o controle aos poucos e quando você se dá conta, a canção e tudo que você pensa são quase a mesma coisa. “Larger than life”, eu diria.

Procurei no Youtube por algum clipe da canção e encontrei uma apresentação da banda por volta de 85-86 executando a música com um outro arranjo. E a versão original, apenas o áudio, servindo de background para um documentário sobre surf chamado Riding Giants. Escolho a segunda opção, pelo “crescendo” da música e pelas belas imagens, sabendo sempre que o “mar” cantando pelos Waterboys não é somente o oceano. É maior. Maior que a vida.

PS: post dedicado a Leonardo Nascimento Salomão, meu ainda amigo, padrinho de casamento e presença constante em “This Is The Sea”.

THIS IS THE SEA

(Mike Scott) 1985

These things you keep
You'd better throw them away
You wanna turn your back
On your soulless days
Once you were tethered
And now you are free
Once you were tethered
Well now you are free

That was the river
This is the sea!

Now if you're feelin' weary
If you've been alone too long
Maybe you've been suffering from
A few too many
Plans that have gone wrong
And you're trying to remember
How fine your life used to be
Running around banging your drum
Like it's 1973

Well that was the river
This is the sea!

Now you say you've got trouble
You say you've got pain
You say've got nothing left to believe in
Nothing to hold on to
Nothing to trust
Nothing but chains
You're scouring your conscience
Raking through your memories
Scouring your conscience
Raking through your memories

But that was the river
This is the sea yeah!

Now i can see you wavering
As you try to decide
You've got a war in your head
And it's tearing you up inside
You're trying to make sense
Of something that you just can't see
Trying to make sense now
And you know you once held the key

But that was the river
And this is the sea!

Now i hear there's a train
It's coming on down the line
It's yours if you hurry
You've got still enough time
And you don't need no ticket
And you don't pay no fee
No you don't need no ticket
You don't pay no fee

Because that was the river
And this is the sea!

Behold the sea!


quarta-feira, junho 18

De onde viemos? Para onde vamos?

A primeira Blips & Blops colocava a banda inglesa Prodigy e o combo rebolativo brasileiro É O Tchan como dois lados da mesma moeda. Era o fim de 1997, o auge da bundalização nacional e uma época estranha para quem gostava de música. Dez anos depois não há mais sinal dessas formações, mas o conceito da afirmação original comportaria uma comparação entre Gaiola das Popozudas e The Kooks. Ou entre Mr. Catra e Arctic Monkeys. Talvez Sorriso Maroto e Tokio Police Club. Isso significa que pouco mudou no processo de emburrecimento do consumidor médio de música, algo que pode ser considerado como uma conseqüência inevitável do pop/rock. Só que, claro, há escolhas e cuidados que podem te levar ao precipício mais próximo ou que podem interromper sua caminhada rumo ao rebanho. Blips & Blops é uma ferramenta de esclarecimento, que tem memória, senso crítico e opinião. Nem sempre isso será politicamente correto – ainda bem. Se for preciso espinafrar algo ou alguém, a coluna não hesitará. Também não haverá receio em remar contra marés, principalmente porque considero um dever manter os leitores informados e alertas contra armadilhas do showbiz e do ofício de ouvir música. Sim, para B&B, ouvir música é um pouco mais que distração ou passatempo. É um momento sublime, é como sexo, como degustar um belíssimo prato, visitar o Museu do Louvre. Algo transcendental, que nos coloca em contato com nossa herança pessoal e portátil. Música é, portanto, algo que será levado quase a ferro e fogo por aqui. Estejam preparados.

Entre 1997 e 2008 estão onze anos de expansão e retração, meus e do mundo. Há uma virada de século, de milênio, esperanças, descrenças e provas definitivas de que tudo acaba bem.

Vamos iniciar os trabalhos.